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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Secos e molhados


                       Estou voltando, depois de uma prolongada pausa, a regar este jardim, porque, ao longo da última semana, a casa caiu, pelo menos para mim. Este jardim em que escrevo, bem como o jardim da vida, estão quase secos. Nossas vidas estão passando por uma estiagem desoladora, que parece não ter fim.





                       Como já devo ter dito antes, os tempos são de vacas magras. Eu e o restante do Nordeste precisamos de chuvas, pois estamos cada vez menos produtivos e mais sedentos, não apenas de água, mas também de justiça, de esperança, de segurança, de saúde, de paz, de qualidade de vida e de amor. O tempo esteve fechado, naqueles dias, na cidade e nos sertões. Já era de se esperar que o mundo viesse a desabar sobre as nossas cabeças, mas de um jeito diferente. Esperávamos que o mundo desabasse nas águas de fevereiro que viessem a lavar nossas almas e fertilizar nossas terras.

                   
                       O problema é que não vieram apenas as águas. Com ela, vieram muitos problemas, para mim e para a coletividade. Não foi apenas o céu que veio abaixo. Para começar, logo após estas chuvas, uma das marquises do recém inaugurado Hospital Regional da Zona Norte, em Sobral, aquele mesmo que foi inaugurado com um show de Ivete Sangalo, desabou, deixando uma pessoa ferida. O teto de um posto de gasolina também desabou. Tudo aconteceu no mesmo dia e na mesma cidade. O desabamento de parte do hospital, somado com a polêmica gerada pela contratação da cantora baiana para a festa de inauguração, contribuiu para que o Ceará virasse motivo de chacota nacional.


                       Esses fatos não me arranharam. O que me afetou de verdade, na semana passada, foi ter sentido quase todo o peso do hospital onde trabalho caindo na minha cabeça. Nunca fui tão cobrado neste trabalho como agora, e, apesar de trabalhar como um peão em um latifúndio e de correr, de um lado para o outro, para não se sujar, enquanto os pombos sobrevoam esta praça e nos bombardeiam, sem cerimônias, ainda há acusações de que eu e minha equipe não estamos atendendo às solicitações que nos chegam, acusações que considero caluniosas. Quem carrega esta empresa nas costas sou eu. Quem sabe o que é sentir-se cada vez menos gratificado e mais frustrado com seu trabalho, engolindo sapos e juntando tudo com os problemas de ordem pessoal, sem saber como remanejar e dispor os diversos problemas em seus devidos lugares e resolvê-los, sou eu. Só não desisto de tudo por falta de opção e porque ainda acredito que não cheguei aqui por acaso. Então, a única alternativa é seguir em frente, sempre, mesmo que seja às cegas.


                       Os pesos do meu hospital e da minha vida pessoal me fizeram afundar até chegar aonde me encontro. Mais uma semana se inicia e saio de minha casa à campo, praticamente me arrastando. Se as segundas-feiras já eram dias cinzentos como chumbo, agora ficou pior. Estou caindo em campo cada vez mais desmotivado para o trabalho e para a vida, por não corresponder adequadamente às expectativas de quem depende de mim, aonde quer que eu vá, porque minha mente já não funciona como outrora.


                       Há algum tempo, havia conseguido encontrar o amor. Ele estava bem ali, sempre irradiante e de braços abertos, mas acabei perdendo-o novamente, de maneira boba, porque não soube cuidar bem dele, porque não lhe dei o merecido valor. Por isso hoje me encontro tão amargurado, tão desamparado, tão errante, tão pesado, tão saudoso, tão sem energias para sorrir e fazer os outros sorrirem, enfim, dai-me forças para erguer a cabeça e encarar o mundo outra vez. Enquanto isso, o céu cai sobre minha cabeça, e eu, mesmo sem beber, vejo o mundo girar, como muitos de meus pacientes veem, até cair, e me reerguer. E, assim, o círculo vicioso recomeça, sempre.

                     


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