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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pensamentos dadaístas 16


                       O ex-jogador Ronaldo "Fenômeno" tornou-se a mais nova "vítima" do quadro "Medida Certa", do Fantástico. Bem, digamos que é uma "vítima", pelo menos em parte. Alguém me explica, por favor, como uma pessoa aceita se submeter a uma situação como essa. Teria ele resolvido participar do quadro por causa das chacotas e da pressão da opinião pública, relacionadas com sua obesidade, que teria-lhe comprometido o desempenho em campo e forçado-o a se aposentar tão jovem???                    

                       Seja como for, penso que um regime à base de dieta e de exercícios físicos para quem deseja perder excesso de peso deveria ser considerado como uma coisa íntima, como se fosse um tratamento de saúde individual, não algo para ser televisionado, como se fosse um reality show.

                       Falando em futebol, você soube que o jogador Ganso, há pouco mais de uma semana, trocou o Santos pelo São Paulo, onde deverá estrear, em 2013. Quando surgiram os rumores de que Ganso estava sendo sondado pelo tricolor paulista, ele passou a ser hostilizado pela torcida santista, que chegou a chamá-lo de mercenário e atirar moedas ao campo, ao final de uma partida em que o time do litoral paulista acabou derrotado. Lembrei-me que, há quase dez anos, quando o time do Fortaleza estava vivenciando uma boa fase, participando da primeira divisão do Brasileirão, seu melhor jogador era Clodoaldo "Matador". Até que, num belo dia, ele deixou o Fortaleza e foi contratado pelo Ceará, seu maior rival. Desde então, ele passou por diversos clubes, como, por exemplo, o Guarany de Sobral, o Juazeirense, de Juazeiro da Bahia, e agora está defendendo o Horizonte, de uma cidade da Grande Fortaleza. Situações como essas reforçam o que já vem sendo observado na prática, há algum tempo: que os torcedores, geralmente, são bem mais fiéis aos seus clubes que os próprios jogadores e que os treinadores, porque estes dois últimos geralmente trocam de clubes inúmeras vezes, ao longo de suas carreiras profissionais, não necessariamente por ganância, mas por questões de sobrevivência, de buscas por resultados e por aperfeiçoamento profissional, muito embora, segundo os antigos, os jogadores de futebol de antigamente jogassem mais por amor ao esporte e por diversão que por trabalho, por dinheiro e por status. Depois quero conversar mais sobre isso, em um ensaio que estou preparando sobre o futebol.
                   

                          Como você soube, o ex-soldado da PM de São Paulo Florisvaldo de Oliveira, que ficou conhecido como "Cabo Bruno", e que passou quase trinta anos preso, porque teria liderado um grupo de extermínio na capital paulista, no início dos anos 80, foi assassinado, semana passada, ao chegar à sua residência, em Pindamonhangaba, pouco mais de um mês após ter sido libertado e pouco depois de ter sido ordenado pastor evangélico.

                         Reza a lenda que ele recebia dinheiro de alguns comerciantes da zona sul de São Paulo em troca de proteção e para executar criminosos que praticavam assaltos, naquela parte da cidade. Em sua última entrevista, concedida a uma emissora de TV em sua cidade e que foi reproduzida parcialmente em uma reportagem do programa Domingo Espetacular, da TV Record, no último domingo, ele contou que, naquela época, há trinta anos, resolveu fazer justiça com as próprias mãos porque sentia a mesma frustração que todo policial ainda hoje sente e tem vontade de desabafar: a frustração de não ver resultados satisfatórios do seu ofício em recolher maus elementos para proteger a sociedade, porque a Justiça não consegue segurar os bandidos atrás das grades por um tempo adequado.

                         Caso você não saiba, para que você entenda melhor os motivos que teriam levado "Bruno" a proceder assim, a insegurança no eixo Rio-São Paulo, há trinta anos, já era considerável e preocupante, e os moradores de lá já enfrentavam problemas parecidos com os atuais, enquanto Fortaleza ainda era tida como um paraíso. A diferença é que, naqueles tempos, ainda não havia sido inventados o "sequestro-relâmpago", tampouco a "saidinha bancária". Essa situação calamitosa de insegurança, que só fez aumentar, nestas três décadas, e que se alastrou pelo Brasil, é o preço do progresso. Até agora, nenhuma região do país conseguiu conciliar desenvolvimento econômico, sustentabilidade e justiça social. Não acho conveniente entrar nessa questão agora. Melhor conversarmos sobre isso depois.                        

                         Entendo as razões do ex "Cabo Bruno" para ter feito o que fez, embora elas não justifiquem o que ele fez, assim como também não se justifica a atitude da TV Record em mandar uma equipe ficar seguindo-o em sua rotina, por alguns dias, após ele ter deixado a prisão, como se ele ainda fosse um criminoso procurado e como se estivessem adivinhando o que iria acontecer. Precisava disso??? No entanto, casos como os crimes que ele cometeu, que não são casos isolados, nos chamam a atenção para discutir um tema que não podemos mais ignorar: o que fazer com os nossos bandidos??? Ele optou pela via mais fácil: matá-los.

                         Não sabemos mais onde colocar nossos marginais, para nos mantermos livres das ameaças que representam. Muitos deles, quando estão na cadeia, são piores do que quando estão soltos. E, quando saem, fazem as mesmas coisas que faziam antes e muitos deles esnobam suas vítimas, dizendo que acabaram de sair do presídio e que nada tem a perder. Veja a que ponto chegamos: ser ex-presidiário dá status e eu não sabia. Com um celular na mão, o mundo é deles, que, mesmo dentro do xadrez, aplicam golpes como o do "sequestro virtual" e o do sorteio por telefone. Numa dessas, tentaram enganar até o radialista e humorista Mução, mandando mensagem de texto para seu celular pessoal, mas, dessa vez, Mução ligou de volta e quem riu por último foi ele. Depois conversamos mais sobre tudo isso.

                         Devemos ficar felizes porque, de alguma forma, Florisvaldo "Bruno" conseguiu encontrar Jesus Cristo e um sentido para a vida humana, aprendendo a valorizá-la. Escolhi a imagem acima para ilustrar essa conversa a fim de evidenciar o lado mais sensível da pessoa. Nas horas vagas, Florisvaldo, ainda preso, começou a pintar quadros, que chegaram a ser expostos em galerias.


                         Para encerrar a postagem, não podia esquecer de deixar uma homenagem à Hebe Camargo, que eternizou-se no último sábado. Os meios de comunicação não pararam de falar dela, nesse último fim de semana, e o Brasil praticamente parou. E não é para menos. Com mais de 60 anos de carreira, Hebe trabalhou como cantora, atriz e apresentadora, tendo sido uma das primeiras profissionais da televisão brasileira, talvez a mais antiga profissional da TV a se manter em atividade, mesmo debilitada por um câncer. Famosa pelos "selinhos" nos convidados de seus programas de entrevistas e por dizer, às vezes, que alguém era "uma gracinha", sua ausência vai deixar um vácuo na mídia, e ela merece que lhe tiremos o chapéu. O vídeo a seguir seria como se fosse uma espécie de primeiro vídeoclipe musical da televisão brasileira, no qual a jovem Hebe, fazendo jus ao nome, inspirado na deusa grega da juventude, com pouco mais de vinte anos de idade, faz um dueto com o também saudoso Ivon Curi.


                       

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