Um dia me perguntaram por que eu
ficava mais feliz, ao receber um representante de um laboratório farmacêutico
do que ao receber um paciente.
Simbolicamente, enquanto o
paciente traz problemas, o propagandista de um laboratório traz as possíveis
soluções. Não quero dizer com isso que a visita do paciente não seja também, ao
seu modo, enriquecedora. Cada um deles traz um caso e uma história de vida.
Estudiosos dizem que o paciente sempre chega de mãos dadas com a criança que
ele foi um dia. De certa forma, faz sentido, observando que eles chegam meio
que infantilizados e indefesos.
Os representantes trazem, além de
amostras grátis, materiais científicos relacionados aos medicamentos que eles
propagam, que, embora enviesados, acrescentam alguma coisa aos nossos
conhecimentos e podem nos ajudar a ter alguma praticidade no atendimento. Eu gostava
quando eles traziam alguma ferramenta de grande utilidade na rotina do
consultório, como um manual de consulta rápida, por exemplo.
Eu ficava mais feliz com aquelas
visitas dos representantes, no começo de minha carreira. Hoje, já não me
empolgo tanto. Eu já analiso com um olhar mais crítico os artigos que eles
trazem. Eu já não consigo mais dar vazão a tantas amostras grátis que recebo.
Eles já não me trazem mais aqueles manuais, nem outros brindes, como outrora,
até porque a ANVISA os restringiu um pouco em relação a isso. Mesmo que
trouxessem, já não me teriam mais tanta utilidade. Eu me aperfeiçoei. Carrego
livros, manuais, consensos, protocolos e outras ferramentas médicas em um só dispositivo portátil.
Os propagandistas de laboratórios
são grandes amigos e grandes parceiros. Eles, de certa forma, nos auxiliam
muito, em nosso trabalho, não apenas em se tratando de auxílio material, mas
também com auxílio humano. Lamentavelmente, eles foram proibidos de entrar efazer seu trabalho em diversos hospitais de ensino do país, inclusive no meu
hospital,
embora, num determinado momento, tudo parecesse caminhar para um entendimento
entre a classe médica e a indústria farmacêutica.
O motivo alegado para tais proibições foi “questão de ética”.
De qualquer maneira, o trabalho
daqueles propagandistas poderia ser mais bem aproveitado, se eles pudessem
apresentar seus produtos às pessoas certas e nos momentos certos. O ideal seria
se eles procurassem, estando bem munidos de evidências científicas da eficiência e da
viabilidade financeira dos seus medicamentos, os gestores de saúde municipais, estaduais e federais, a fim de
tentar convencê-los a adquirir tais medicamentos para dispensação gratuita aos
pacientes dos diversos serviços de saúde pública.
Quando um representante de
laboratório vai a um CSF (Centro de Saúde da Família), os únicos beneficiados
realmente com a visita são os médicos e, às vezes, os enfermeiros, quando
recebem amostras grátis. Elas geralmente ficam encalhadas e perdem a validade
nos armários do estabelecimento, porque a maioria dos médicos prefere prescrever os medicamentos que já estão disponíveis na farmácia do posto e que, na
maioria das vezes, têm as mesmas finalidades que as amostras grátis estocadas.
Não é por mal que eles fazem isso. Se eles deixassem de prescrever o que está
na farmácia para distribuir as amostras aos pacientes, haveria dois efeitos
colaterais: o dinheiro investido pelo município na compra dos medicamentos da
farmácia do posto seria disperdiçado e o paciente ficaria dependente da
amostra, para a qual não haveria fornecimento continuo garantido naquele posto, e, em algum momento, o paciente se veria obrigado a usar de seus próprios recursos para adquirir aquele medicamento.
O que o médico pode fazer, no máximo, é oferecer uma amostra a um paciente para
testá-la, quando o referido medicamento não for dispensado no posto, o paciente
realmente precisar dele e não tiver dinheiro para comprá-lo em uma drogaria comercial.
Quando o paciente vai a um especialista, como um cardiologista, por
exemplo, este costuma querer “dar um tiro de canhão”, prescrevendo os
medicamentos de última geração mais caros e mais difíceis de serem encontrados
no mercado. Eles podem até resolver o problema do paciente, mas, como esse
especialista não vinha acompanhando o problema do paciente desde o princípio,
ele não tem como saber se o paciente obteria melhoras com medicamentos mais
simples e mais baratos fornecidos nos postos de saúde ou não. Aí é que se torna
importante o papel do médico de família, para estabelecer o equilíbrio e o bom
senso. Nos pacientes com hipertensão arterial, por exemplo, deve-se, como diz o
adágio popular, “comer pelas beiradas”. Ou seja, começar com os
anti-hipertensivos mais simples de primeira geração que estiverem à mão, como o
captopril, a hidroclorotiazida e o atenolol, por exemplo. Ajustar as doses ou
trocar os fármacos, se necessário. Se o paciente apresentar acessos de tosse
incoercíveis, trocar o captopril pelo losartan. Partir para o nebivolol e o
olmesartan, por exemplo, apenas em último caso.
Na maioria das vezes, essa tática de “começar por baixo” dá certo. Afinal, você trataria uma simples infecção de garganta com imipenem, que é um dos antibióticos de última geração mais usados em UTIs??? Acho que não. Em se tratando de antibióticos, o bom senso é imprescindível. Não se deve prescrever um antibiótico avançado X antes de submeter o paciente ao antibiótico de escolha Y para a infecção que ele enfrenta, sob pena de estar selecionando cepas bacterianas resistentes ao antibiótico X, invalidando sua eficiência a curto ou médio prazo. Ou seja, o antibiótico X logo ficaria desgastado e a infecção não cederia mais com ele nem com outro antibiótico inferior.
Na maioria das vezes, essa tática de “começar por baixo” dá certo. Afinal, você trataria uma simples infecção de garganta com imipenem, que é um dos antibióticos de última geração mais usados em UTIs??? Acho que não. Em se tratando de antibióticos, o bom senso é imprescindível. Não se deve prescrever um antibiótico avançado X antes de submeter o paciente ao antibiótico de escolha Y para a infecção que ele enfrenta, sob pena de estar selecionando cepas bacterianas resistentes ao antibiótico X, invalidando sua eficiência a curto ou médio prazo. Ou seja, o antibiótico X logo ficaria desgastado e a infecção não cederia mais com ele nem com outro antibiótico inferior.
Trocando em miúdos, na hora de
prescrever e tratar, é fundamental bom senso para escolher a ferramenta mais
simples e mais acessível que melhor se encaixe ao problema em questão. Se você
gastar uma ferramenta grande em um problema pequeno, vai faltar ferramenta
quando aparecer um grande problema.
Dedico a postagem de hoje aos representantes dos laboratórios farmacêuticos, que estão sempre nos visitando, em nossos mais diversos ambientes de trabalho, nos deixando a par das novidades da indústria farmacêutica, dos preços das medicações no comércio e de onde encontrá-las. Meus parabéns a todos eles, com muita saúde e alegria de viver. Que Deus os proteja, em seus ofícios.
Dedico a postagem de hoje aos representantes dos laboratórios farmacêuticos, que estão sempre nos visitando, em nossos mais diversos ambientes de trabalho, nos deixando a par das novidades da indústria farmacêutica, dos preços das medicações no comércio e de onde encontrá-las. Meus parabéns a todos eles, com muita saúde e alegria de viver. Que Deus os proteja, em seus ofícios.
“Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém.”
I Cor 6,12
Olá Ynot !!!
ResponderExcluirParabéns pela homenagem aos representantes dos laboratórios ! Mais uma vez você foi muito feliz na escolha do tema, pois mesmo trabalhando em um agregador de notícias, não vi ninguém postando sobre o dia do propagandista :)
Gostei muito de todas as informações que nos trouxe, para mim que não faço parte deste mundo, seus esclarecimentos foram muito interessantes e úteis, acho muito legal sabermos mais sobre o dia a dia das profissões.
Deixo aqui meus parabéns a todos estes profissionais citados !
Grande abraço e boa semana :D