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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pensamentos dadaístas 12


                       Deu no jornal que a sensação de insegurança no Nordeste é maior do que noutras regiões. Parcialmente, a informação procede. O aparato policial no eixo Rio - São Paulo é mais bem preparado e mais bem armado para lidar com a truculência da criminalidade, mas ainda não consegue manter os criminosos em rédeas curtas, de maneira satisfatória. Noutras regiões, as autoridades ainda estão aprendendo a lidar melhor com a criminalidade crescente em suas áreas, fenômeno relativamente recente.


                       De qualquer maneira, o combate ao crime no Sul e Sudeste recrudesceu, fazendo muitos bandidos daquelas regiões migrarem ou, pelo menos, incentivarem, indiretamente, por meio da imprensa, pessoas de má índole prévia em nossa região à mostrarem suas garras e optarem de vez por levarem vidas antissociais, sobrevivendo como animais de rapina. Foi como se alguém lá do alto de um morro no Rio de Janeiro, por exemplo, tivesse dado um grito de guerra a ser ecoado em todo o país, uma espécie de "salve", conclamando muitos seres de personalidades antissociais espalhados pelo Brasil afora a cometerem delitos em seus bairros e em suas cidades.

                       Favelas, miséria, falta de caráter e narcotráfico sempre existiram, mas nunca se viu tanta gente saindo assim, de tudo que é buraco, para assaltar, da noite para o dia. Para qualquer lado do país que você se virar, você verá os mesmos problemas e as mesmas reclamações. Em alguns lugares, mais, noutros, menos. Não deixa de ser um quadro desolador. Depois conversamos mais sobre isso.

                       Em Fortaleza, por exemplo, há uns vinte anos, de acordo com minhas observações, as pessoas ainda não tinham tanto medo de sair de casa e serem assaltadas, realidade com a qual os moradores do eixo Rio - São Paulo já conviviam, há mais tempo. Notei que foi de uns quinze anos para cá que muitas pessoas começaram a manter sempre trancadas as portas de casa, a instalar grades em portas e em janelas, bem como grampos de ferro ou de vidro nos muros, e os comerciantes começaram a instalar portões nas portas de seus pequenos comércios, nos bairros.

                       Falando em grampos nos muros, você deve ter ouvido falar que, ano passado, uma médica de Brasília colocou agulhas de seringas supostamente infectadas pelo vírus HIV no muro de sua casa, em um condomínio fechado, veja só, em um condomínio fechado. Ora, se, por um lado, reconheço que ela foi antiética, em ter subtraído material presumivelmente contaminado do seu hospital para esse fim, por outro lado, se existe alguém que merece ser processado nessa situação, esse alguém é a administração do condomínio, por ter falado em fornecer segurança adequada aos seus moradores.
                     
                       Bandidos existem em todos os lugares e representam ameaça à vida em qualquer lugar. Não considero Fortaleza nem mais nem menos perigosa que São Paulo, por exemplo, mas eu não iria morar em São Paulo, por inúmeras outras razões, sobre as quais comentarei noutra ocasião. O que faz a diferença é que, no eixo Rio - São Paulo, de acordo com as notícias policiais que nos chegam de lá, os bandidos são mais audaciosos e mais agressivos. Eles fazem mais coisas das quais até Deus duvida. Crimes como "arrastões" em restaurantes e incêndios contra ônibus não são comuns por aqui. Se, nas ruas daqui, um bandido lhe apresenta uma faca, um revólver ou uma arma pequena e velha qualquer, que talvez não funcione, talvez seja até de brinquedo, nunca se sabe, com o intuito de faturar um celular ou uma bolsa, lá no Sudeste, o mesmo bandido usaria um fuzil, uma metralhadora ou até mesmo uma granada com o mesmo intuito, só para roubar uma bolsa ou um celular.

                       Veja a que ponto chegou o nível de liberdade, ou melhor, de libertinagem dos criminosos. Deixaram-nos soltos demais, nos últimos quarenta anos, veja no que deu. Depois eu quero conversar mais sobre isso, pisando no calo político de alguém, mas, antes, encerro esse assunto declarando que aquele referendo de 2005, ao meu ver, não ia mudar muito nossa situação, porque não adianta apenas restringir ou mesmo proibir o comércio de armas de fogo. O que tem de ser feito é restringir a fabricação e a importação de armamentos para o país, porque, se armas continuam sendo fabricadas no Brasil ou continuam sendo trazidas de fora, elas terão de ser escoadas para algum mercado consumidor, de um jeito ou de outro, e os criminosos continuarão tendo acesso à elas, de um jeito ou de outro.

                       De qualquer maneira, acredito que os criminosos sentiram os efeitos do Estatuto do Desarmamento, porque eles já chegaram a tomar atitudes desesperadas, como começar a assaltar os fóruns do interior para roubar as armas apreendidas que estão sob a posse do Poder Judiciário.


                       Deu no jornal que traficantes jogaram quase duzentos quilos de cocaína de um helicóptero, quando sobrevoavam Acopiara, no Centro-Sul do Ceará. Parte da quadrilha foi presa lá mesmo e os ocupantes do helicóptero foram presos ao pousarem no sertão do Piauí.

                       Para mim, não ficou bem claro se eles jogaram o material para se livrar dele, porque estavam sendo perseguidos por um helicóptero da Polícia Militar do Ceará, ou porque já seria a maneira planejada de fazer a entrega da mercadoria. A quadrilha já vinha sendo monitorada pela Polícia Federal, e a operação que culminou nas prisões dos traficantes foi deflagrada na última sexta-feira, em parceria com as polícias do Ceará e do Piauí.

                       Presumo que tenham lançado em pacotes, mas, já pensou pensou se eles se abrissem no ar??? A lombra ia ser geral.  


                       Acabo de saber que os acusados daquele latrocínio que ocorreu num campus da USP, há pouco mais de um ano, quando o advogado de um deles disse que ele estava sendo ético por não querer entregar o comparsa, foram julgados e condenados. Daniel de Paula Celeste Souza, que teria sido o autor dos disparos, foi apenado em vinte anos, enquanto Irlan Graciano Santiago (foto acima), o bandido "ético", foi apenado em quatorze anos. Oxalá eles cumpram pelo menos uns dez anos lá dentro do cárcere mesmo, tempo suficiente para envelhecerem, amadurecerem e criarem vergonha na cara.


                       Deu no jornal que Fortaleza é considerada uma cidade "satisfatória", para a maioria de seus habitantes, nos quesitos moradia, mobilidade, emprego e segurança.

                       Olha, Fortaleza está longe de ser um paraíso, mas não é de todo um mau lugar para morar. Há lugares piores, como eu já falei, lá em cima, nesta postagem.

                       Fortaleza também tem a vantagem de não estar entre as cidades mais caras do mundo, lugares onde não faço questão de morar, porque lá não deve haver lugar nem para os próprios cidadãos morarem e viverem, de tão elevado que é o custo de vida.

                       Entretanto, Fortaleza, lamentavelmente, ainda faz parte de um ranking vergonhoso: o das cidades com maior concentração de renda do Brasil e do mundo, juntamente com GoiâniaNiterói, Belo Horizonte e Brasília. Essa história eu ouço desde os tempos do colégio, nas aulas de geografia.                                      
                      Deviam ter incluído nas pesquisas o Rio de Janeiro, onde mora o homem mais rico do Brasil e um dos mais ricos do mundo, fato que determinaria uma concentração significativa de renda naquela cidade. Eu sei que Fortaleza tem alguns habitantes muito ricos. Não os conheço pessoalmente. Nunca imaginei que fossem tão ricos assim. Talvez eles vivam de maneira discreta no meio de nós. Talvez não façam parte daquela massa que esbanja dinheiro com veículos importados que abarrotam nossas ruas e avenidas e tumultuam nosso trânsito.

                      No entanto, o problema não é apenas de uma ou de poucas cidades, mas de um país que é rico, mas, contraditoriamente, parece pobre, porque talvez concentre renda demais. Depois eu quero conversar mais sobre essa questão de cidades, população e qualidade de vida.



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