Como você já sabe, o Plano Real completou 18 anos, nesse domingo, dia 1º. Por um lado foi bom, porque, em princípio e aparentemente, ele passou uma impressão de aumento do poder aquisitivo da população e de ganho em qualidade de vida.
Foi naquele contexto que as pessoas passaram a comprar mais eletrodomésticos e automóveis, por exemplo, levando empresários inescrupulosos a cobrarem ágios nos preços daqueles produtos, e um ministro teria reagido àquilo, declarando que "quem compra com ágio é otário, e quem vende é ladrão".
Além disso, o Real, digamos que ele moralizou o sistema financeiro de nosso país, como uma moeda não tão forte, porém estável. Antes dela, vivíamos trocando de moeda. Nosso sistema monetário era confuso. Compreender cada uma daquelas moedas correntes e saber quanto elas valiam era muito difícil. Alguém sabe explicar como funcionava o sistema de contos de réis ou de mil-réis, como preferir, nossa primeira moeda, e quanto valeria um mil réis, em reais, por exemplo???
Entretanto, juntamente com a embriaguez do tetracampeonato mundial no futebol, a euforia daquela nova moeda também passou e logo deu lugar à dura realidade. Nós percebemos que continuávamos sendo um povo pobre em um país rico que não quer dividir suas riquezas conosco. O modelo de gestão neoliberal aplicado no Brasil, nos oito anos seguintes, nos dinamitou e nos enfraqueceu socialmente.
Quem disse que a inflação acabou??? Tudo bem que, outrora, os preços de muitas tarifas públicas e de muitas mercadorias eram reajustados quase todos os meses. Agora, eles podem ser reajustados, tanto anualmente como diariamente, desde que conte com as bençãos de agências reguladoras do governo. O importante é que os preços de produtos e de serviços, sejam públicos ou privados, continuam sendo reajustados, frequentemente, para que as entidades recebedoras não tenham prejuízos, enquanto os salários da maioria dos assalariados estão defasados, e, com os prejuízos destes, ninguém se importa.
Por isso que nós estamos vendo uma onda de greves varrendo o Brasil. Quase todos estamos insatisfeitos com o que está acontecendo e estamos demonstrando isso, cada vez mais, enquanto o Real continua aí, circulando, apenas de passagem por nossas mãos. Fazer o quê? Dinheiro foi feito para ser gasto ou investido mesmo. Se foi cunhado pelo Governo Federal, fatalmente vai e deve voltar para ele. Deve ser por isso que, pelo menos em parte, Jesus Cristo disse: "Dai à César o que é de César, e, à Deus, o que é de Deus". Ambos cunharam moedas, cada um ao seu modo. Eles investiram na sociedade e queriam receber de volta.
Você já reparou que dinheiro, quando recebemos, é pouco, mas, quando pagamos, é muito??? Se recebemos mil reais por mês, é pouco para sobrevivermos. Mas, se devemos mil reais, é uma dívida considerável, não é mesmo???
O aniversário do pentacampeonato mundial da Seleção Brasileira de Futebol foi também nesse domingo, dia 1º. Foi há dez anos.
Tudo bem que um gol da nossa seleção de canarinhos é sempre um gol. Uma vitória da seleção não é de se jogar fora, principalmente quando esses grãos, de gol em gol e de vitória em vitória, se somam e a galinha enche o papo, nos levando à uma taça de campeões, mas confesso que, pelo menos para mim, aquela copa não teve tanta graça assim, apesar das emoções de ter de acordar de madrugada, para assistir às partidas. Não sei como eu digo. Não sei se eu não teria dado a devida atenção ao evento, porque estava entretido, em fase de readaptação em um novo ritmo de vida, me instalando em uma nova casa, sem ter certeza de que, daquela feita, seria para ficar. Talvez por ter também a impressão de que o Brasil passou fácil demais pela maioria dos adversários, encontrando alguma resistência apenas diante da Inglaterra.
Aquela foi a última vez que o Brasil venceu uma copa. Até agora. Que lições nós pudemos tirar daquela época??? O que nós ganhamos, realmente??? Nosso país tornou-se melhor do que era, depois do penta??? Nossa autoestima melhorou??? Nosso futebol continuou sendo o melhor do mundo??? Lamento dizer, mas parece que a resposta para algumas dessas perguntas é não. O Brasil continuou o mesmo. Os brasileiros continuaram os mesmos. Os problemas do Brasil e dos brasileiros continuaram os mesmos. Se melhorou alguma coisa, foi por causa da mudança de governo, que promoveu alguma inclusão social, um pouco depois. O brilho do nosso esporte acabou sendo ofuscado, de tão desgastado pela mídia e por não mostrar mais resultados satisfatórios.
Além de tudo isso, houve rumores de que o governo decretaria feriado nacional, na segunda-feira seguinte. Não aconteceu. Enfim, tudo voltou a ser o que era antes, depois que a banda passou. E eu estou preparando um ensaio para conversar mais sobre a importância do futebol em nossas vidas.
Olha só que notícia sensacional a que vou repassar, a seguir. Parece que o feitiço virou contra o feiticeiro. Todas as campanhas educativas para o trânsito que vemos na mídia parecem querer sempre atribuir a culpa pelos acidentes de trânsito exclusivamente aos condutores de veículos automotores. Enquanto isso, o poder público sempre tira o corpo da reta e sai pela tangente.
Mas, desta vez, foi diferente. A AMC, a Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza, foi condenada a indenizar um motorista que colidiu o carro, em um cruzamento sem sinalização. Tudo bem que existe um dispositivo no Código de Trânsito Brasileiro, postulando que, em cruzamentos sem sinalização, a preferência é do veículo que está à direita. Entretanto, esta decisão deve servir para chamar a atenção do governo, seja em que nível for, municipal, estadual ou federal, para que não se esquive de seu dever de prover segurança, especialmente no trânsito, para a população, com base em brechas nas leis, porque o fato de um motorista respeitar a regra da preferência à direita não pode ser usado como desculpa para o descaso, como desculpa para que o município deixe de investir na pavimentação e na sinalização do maior número possível de vias.
Estou preparando mais um ensaio sobre a situação de nosso trânsito e vou abordar a responsabilidade de cada uma das partes.
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