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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Pensamentos dadaístas 4

                           

                           Desta vez, vou escrever sobre alguns assuntos muito noticiados durante a semana que passou. Me pediram uma postagem verdadeiramente dadaísta, ou seja, mais fragmentada, uma miscelânea, aqui vai uma, então.

                           Falou-se muito que, no Rio de Janeiro, um ciclista que pedalava em uma bicicleta elétrica pela ciclovia foi parado numa blitz da operação Lei Seca, multado e teve o transporte apreendido. O motivo: o rapaz, que era cinegrafista, viu que o posto de fiscalização foi montado bem sobre a ciclovia, que um dos veículos oficiais dos agentes também estava estacionado sobre a ciclovia, ajudando a obstruí-la, e resolveu gravar um vídeo com aquela cena. Os fiscais, ao perceberem que estavam sendo filmados, resolveram abusar de sua autoridade e enquadrar o cara. Mesmo sabendo que ele não estava embriagado e que ele tinha o direito de usar a ciclovia, mandaram o cara soprar no bafômetro. Ele não obedeceu. Então, os fiscais se aproveitaram da situação para prejudicar o ciclista de todas as maneiras legais possíveis. Multaram-no por não ter habilitação e equipamento específicos para andar naquele tipo de bicicleta, itens que ainda não foram devidamente regulamentados por lei, e por se recusar a soprar no bafômetro, além de terem-lhe apreendido a carteira de motorista e a bicicleta.   
   
                           Está na cara que os agentes fizeram aquela sacanagem com o ciclista porque sabiam que estavam em posição errada e tiveram medo de ser denunciados. Como se não bastasse, descobriu-se, logo depois, que os veículos oficiais da operação, inclusive o reboque que levou embora a bicicleta, estavam crivados de multas aplicadas. Não deu outra. Os agentes responsáveis por aquela blitz acabaram punidos, mas o governo estadual se recusa a voltar atrás com as multas contra o jornalista, preferindo mascarar seus erros com os erros dele. É, meu caro, como diz o jargão popular, "quem não tem telhado de vidro pode jogar a primeira pedra". A despeito disso, ainda sou favorável à esse tipo de operação e às outras iniciativas que almejem a redução dos acidentes de trânsito. O que eu não aprovo é que se use de prepotência e de arrogância, especialmente para cima dos mais fracos. Outras coisas que não aprovo são os maus exemplos recentes de políticos e de artistas, que, por vezes, além de se recusarem a soprar no bafômetro, ao caírem nas graças das blitz, ainda por cima trafegam em situação irregular.


                            Tem-se falado muito em quedas das taxas de juros. A presidenta Dilma tem batido muito nessa tecla, em seus discursos mais recentes, que foram dirigidos mais precisamente aos bancos. 

                            Sou um leigo em economia, mas sei que isso tem seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom é que, aparente e teoricamente, a queda de juros deve forçar quedas nos preços de produtos e de serviços, diminuindo o custo de vida, mas, para que isto se concretize, faço coro com aqueles que defendem a redução dos impostos, inclusive a própria presidenta, que nós pagamos relativamente muito e não os vemos sendo empregados e retornando para a sociedade à contento.O lado ruim é que os juros, além de servirem para regular o mercado financeiro, para cima ou para baixo, quando necessário, servem também para determinar o lucro sobre o faturamento de produtos e serviços. É esse lucro que garante os pagamentos dos salários daqueles envolvidos nos preparos dos produtos e nas prestações de serviços. Se ele cair, estamos perdidos.

                            Se ganhamos por um lado, podemos perder pelo outro. Juros muito altos são péssimos, juros muito baixos, idem. Some-se a isso o fato de que juros muito baixos são muito convidativos ao consumo desenfreado e às aberturas de crédito desenfreadas, o que pode desencadear inflação. Quem operar nessa área e quem quiser investir deve ir com calma, sempre pisando em ovos.   

                            
                            Na Bolívia, o governo de Evo Morález, para fazer média com a população, pretendia amplificar o atendimento médico, resolvendo artificialmente as carências nos serviços de saúde, fazendo pressão sobre os profissionais da saúde, por meio de uma lei que aumenta a carga horária de trabalho diário desta categoria, além de limitar os campos de trabalho dos profissionais, impedindo que os médicos que trabalham em postos de saúde, por exemplo, deem aulas nas faculdades de medicina. Então, vários profissionais da saúde ocuparam e bloquearam uma ponte, na fronteira com Brasil, em protesto. Aparentemente, o governo boliviano voltou atrás e não pretende mais aplicar essa medida, mas todos os profissionais da saúde ainda estão com o pé atrás.  

                            Certamente, ele pretendia aplicar aquelas medidas sem pensar em aumentos salariais, com o intuito de otimizar a "tocação" de serviço nas unidades de saúde, em detrimento da formação e da qualidade de vida dos profissionais. É populismo demais. Já pensou se essa moda chega ao Brasil??? Depois quero escrever mais sobre isso.


                            Por fim, depois que vi uma parte da última edição do Fantástico, fiquei intrigado com o que vi: uma matéria sobre a "ressurreição" de artistas que já se eternizaram, como o rapper Tupac Shakur, morto em 1996, que aparece à direita, de calça branca, na foto acima. Sua imagem em vídeo foi projetada no palco, ao lado do rapper Snoop Dog, com tais qualidades de som e de imagem que passaram à plateia a impressão de que Tupac fosse real. Há rumores de que os responsáveis por essa aparição devem trazer também Michael Jackson de volta em breve.

                            Primeiro: apesar de os familiares desses artistas concordarem com essas formas de homenageá-los, será que os próprios artistas concordariam com isso???

                            Segundo: por essas e outras, tenho notado que existe cada vez mais um afastamento do ser humano, em relação ao mundo real e às pessoas reais. O homem está cada vez mais se refugiando nos computadores, no mundo virtual, em relações virtuais e em tudo que esses elementos têm a oferecer. Toda a nossa vida agora, por mais pobres que sejamos, parece andar em função de computadores e de redes. Existe uma crescente tendência a se valorizar tudo que está relacionado com a informática, em detrimento de outros elementos que fazem parte da vida. Há quem diga que computadores, celulares e redes sociais aproximam quem está longe, mas afastam quem está perto. Depois quero escrever mais sobre isso, porque acho que já estou misturando as coisas.

                            Esse fenômeno de trazer de volta artistas póstumos não é recente. Começou de maneira tímida. Como mostrou a reportagem do Fantástico, há uns vinte anos, o lendário cantor Nat King Cole, que já havia partido, ressurgiu em um telão para fazer um dueto com sua filha Natalie Cole, e eles cantaram juntos, mas em planos diferentes, a canção Unforgettable. Por vezes, quando o artista não volta em imagem, volta pelo menos em voz. Foi o que aconteceu com John Lennon, na canção Free as a Bird, na qual ele canta com os outros Beatles vivos, em 1995, e aconteceu também com Renato Russo, na canção Múmias, cantando com Biquíni Cavadão, em 2001.

                            Tudo bem que evocar as imagens póstumas de artistas de vez em quando é bom, para preservar-lhes e honrar-lhes a memória, além de enriquecer algumas performances de artistas vivos, mas querer se aproveitar das imagens de quem já não está mais aqui para ganhar dinheiro, em caráter permanente, às custas dos mortos, aí já é sacanagem.   



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