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A Pandemia pode ter passado, mas, onde você estiver, não se esqueça de mim.

A Pandemia pode ter passado, mas, onde você estiver, não se esqueça de mim.
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Falando em Pandemia, ela se foi, mas o Coronavírus continua entre nós, fazendo vítimas.

Falando em Pandemia, ela se foi, mas o Coronavírus continua entre nós, fazendo vítimas.
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quarta-feira, 2 de maio de 2012

O capital


                               Estava eu a matutar, nesse feriado do Dia do Trabalhador, com meus botões sobre a infeliz situação dos comerciários, que são as pessoas que trabalham em estabelecimentos comerciais, como lojas, farmácias e supermercados, por exemplo. Há muito tempo, depois de observá-los no cotidiano, indo ou voltando do trabalho meio que desamparados, sujeitos à situações de risco, e, notando que muitos deles frequentam um de meu consultórios, eu venho alimentando a vontade de um dia fazer algo pro eles, que formam uma categoria muito sofrida e muito explorada. Eles trabalham muito em empregos instáveis e recebem pouco em troca, embora alguns deles, às vezes, recebam comissões pelas vendas efetivadas. Finais de semana e feriados não existem, para muitos deles.

                              Muitos daqueles estabelecimentos que mencionei abrem suas portas, fora dos dias úteis, como se fossem serviços essenciais. Posso tolerar uma farmacia ou um supermercado aberto, num domingo qualquer, devido à multiplicidade e à relevancia dos servicos prestados por essas instituiçoes, mas para uma loja de departamentos ou especifica de determinado tipo de produto funcionando, num domingo qualquer, não existe desculpa. Culpa nossa. Nós, em nossa sede frenética de comprar e de consumir, na hora em que dá na telha, damos corda na ganância dos grandes lojistas.

                               O pior é que este problema não é exclusivamente brasileiro. Aos domingos, quase todo o comércio do centro de Buenos Aires, por exemplo, funciona a todo vapor. O movimento de pessoas e de mercadorias é intenso até às 22h. É como se o centro fosse um shopping center ao ar livre, especialmente na área da Calle Florida, uma espécie de calçadão, onde se reúnem artistas de rua e vendedores ambulantes e onde há muitas lojas, bares e restaurantes abertos. Tudo bem, isso tem lá seu lado bom, traz vida ao centro da cidade, enriquece-o culturalmente e aproxima os turistas e as pessoas da comunidade. Que se fechem as lojas, então, e deixem abertos apenas os estabelecimentos comerciais voltados ao entretenimento. Não há necessidade de manter as lojas abertas fora do horário comercial, como o próprio nome diz. Os comerciários tamém são filhos de Deus, são pais de família e têm direito ao descanso e ao lazer com os seus familiares.

                               Assim como os comerciários, outras pessoas que trabalham em empresas privadas vivem na corda bamba. Por "dá cá aquela palha", podem ser demitidas e, uma vez demitidas, dificilmente conseguirão recolocar-se no mercado de trabalho. Se não conseguirem, quem se importa? Para o mundo, elas são descartáveis e prontamente substituíveis. Sempre haverá alguém para ocupar-lhes as vagas. Se não tiverem como arranjar trabalho e se sustentarem, o mundo quer mais é que elas desapareçam, para não se tornarem pesos mortos para a sociedade.

                               Do mesmo modo, agem com os idosos. Esse Estatuto do Idoso é a lei mais hipócrita que já vi, porque teoricamente, concede muitos benefícios legais aos idosos, mas, na prática, não os protege. Há alguns anos, meu ex-sogro, que já tem mais de noventa anos de idade, tentou financiar um imóvel. Todos os bancos o alijaram, alegando que não poderiam conceder-lhe o financiamento, por melhor que fosse sua renda e por mais que ele tivesse crédito na praça, temerários de que ele morresse, antes de quitar a dívida, e eles se vissem obrigados a dar a dívida por quitada e engolir o prejuízo. Esse argumento não procede. Eu, por exemplo, ainda estou pagando as prestações do meu carro e, Deus nos proteja, se eu partir, antes de quitá-lo, o banco provavelmente repassará a dívida aos meus herdeiros. Por que não poderiam fazer o mesmo, em relação ao meu ex-sogro??? É porque, certamente, a mensagem que eles querem passar a ele e às outras pessoas de sua geração que, porventura, ainda estejam aqui é que elas já estão "nos acréscimos", que elas já não têm mais direito às coisas deste mundo e que, portanto, devem partir logo, porque já estão "sobrando" e ocupando espaço no mundo. Veja você a maneira como a nossa sociedade ocidental trata os nossos anciãos. Esse é o futuro que nos aguarda. Depois eu quero escrever mais sobre isso.

                               Nem o capitalismo nem o socialismo valorizam o ser humano. Enquanto um valoriza os interesses das grandes empresas, o outro teoricamente só valoriza a coletividade, mas, na pratica, o que importa são os interesses pessoais e narcisistas de um déspota e do grupo de pessoas diretamente ligadas a ele. A Rússia atual, por exemplo, é assim: se declara capitalista, mas mantém aquela mesma estrutura de poder oligarquica do socialismo ou "comunismo", na qual o poder está nas mãos de indivíduos ligados à maquina burocrática estatal e ao partido político da situação. Na verdade o Brasil também nunca deixou de ser assim, mesmo com entrada e saída de militares do poder e trocas de partidos no Planalto. Depois eu quero escrever mais sobre isso.

                                Finalizo esta postagem com umas perguntinhas: não sei se você percebeu mas, todos os anos, o dia 1º de maio é dia de festa ou de descontração, no Brasil, enquanto, no restante do mundo, é dia de protestos. Além disso, o Dia do Trabalhador é celebrado nessa data, no mundo inteiro, exceto nos Estados Unidos. Eu pergunto a você o porquê de tudo isso. Daqui a um ano, quero uma resposta.

                                Enquanto você pensa, curta esse vídeo da canção "Primeiro de Maio", nas vozes de Chico Buarque e de Milton Nascimento.




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