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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Pântano


                             Como já deve saber, ontem, o famoso contraventor Carlinhos Cachoeira, acusado de pagamento de propinas à renomados políticos em troca de proteção para seus negócios ilícitos e de outros favores pessoais, foi transferido de uma penitenciária federal de segurança máxima, em Mossoró, para uma penitenciária menos segura, em Brasília. Até agora, nada demais.

                            O que me chamou a atenção neste caso foram duas coisas:

1) A cidade de Mossoró, não a conheço bem, mas sei que ela dispõe de um aeroporto com vôos domésticos. Então, por que precisaram trazer Cachoeira à Fortaleza para ser embarcado para Brasília, em um vôo comercial, que fez escala em Teresina, quando podiam até mesmo ter fretado um avião que fosse buscá-lo direto em Mossoró???

2) Se o objetivo da Polícia Federal era dar mais segurança à operação de transferência, despistando a imprensa, quebrou a cara, porque a imprensa acompanhou todos os passos do procedimento, tratando Carlinhos Cachoeira como um artista da música em turnê pelo país.

3) Se alguém quisesse resgatá-lo, ou até mesmo matá-lo, o que é mais provável, saberia bem onde encontrá-lo e iria ao seu encontro. Só precisaria de muita coragem para enfrentar os federais.

                              É, de fato, muito provável que Cachoeira tenha muitos inimigos e que muitos destes queiram vê-lo morto, pois ele foi muito esperto. Ele gravou as conversas que teve com seus clientes, provavelmente pensando: "Se eu cair, eles caem comigo".

                              As gravações de suas negociatas já arranharam as imagens de um senador e de um governador. Existe a perspectiva de sejam reveladas novas negociatas e que isto comprometa mais pessoas importantes. Além das gravações de Cachoeira, ainda vêm à tona as escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal.

                              Pois é, meu caro, com essa cachoeira de volta à capital federal, as águas vão rolar, e, com elas, cabeças também. Esse manancial poluído vai jorrar até alagar o Planalto Central, onde formar-se-á um pântano. Coincidência ou não, o Distrito Federal está relativamente próximo ao pantanal mato grossense. Por isso, se o lago Paranoá vier a transbordar, ele pode ficar parecido com o rio Tietê.

                              Aos moradores de BSB, que faz aniversário no próximo sábado, dia 21, minhas condolências. Sei que vocês não têm culpa do que aconteceu com vossa cidade, mas ela transformou-se em símbolo do que há de mais sórdido em nosso país, corrupção, indolência, inoperância, carestia, esnobismo, parasitismo, prepotência, opulência, enfim, tudo num só lugar. Tenho vergonha de ter aquela cidade como capital de meu país. Será que Juscelino Kubscheck esperava tudo isso, quando criou Brasília??? Certamente ele deve estar se revirando no caixão.

                              São Paulo, por exemplo, é considerado o Estado mais rico da federação, não só porque produz suas riquezas, mas porque tem muitos produtos e serviços a oferecer. Já o Distrito Federal, apesar de ser também um Estado rico, acaba sendo pobre, não apenas por não ter os mesmos recursos que São Paulo, mas, principalmente, pelos motivos que já foram citados, além de ser cercado por um anel de pobreza, para onde a população mais humilde do lugar acabou sendo varrida.

                              Apesar de tudo isso, muitas pessoas do Ceará ainda vêem Brasília como uma terra de oportunidades, e, de fato, não deixa de ser, pelo menos para alguns, e para lá migram, em busca de novas vidas. Boa sorte a elas, em suas opções. Eu não faria isso, acostumado que sou à minha terra, pois criado fui, durante minha vida inteira, perto do mar. Como eu acho que já disse antes, eu só vou virar candango, no dia em que eu entrar na política e conseguir me eleger deputado federal. Se o Tiririca pode, por que eu não posso???

                              Comecei escrevendo sobre a transferência de Carlinhos Cachoeira para outro presídio, a fim de dizer que a imprensa deve ser livre, mas deve reavaliar com bom senso a conveniência de divulgar certas informações, bem como a forma de divulgá-las, sem sensacionalismo. Acabei viajando na maionese e escrevendo, de novo, algo um pouco dadaísta, além de um pouco surrealista também. Vou caprichar, na próxima.
                           


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