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segunda-feira, 19 de março de 2012

O médico e o monstro 4


A passagem bíblica a seguir, que foi o trecho do Evangelho abordado na missa desse domingo que passou, traz à tona algumas reflexões sobre saúde.

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: "Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê, não é condenado, mas, quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. Mas, quem age conforme a verdade, aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus. 
João 3, 14-21

A passagem sublinhada acima faz referência às seguintes passagens:

O Senhor disse-lhe: “Estende tua mão e toma-a pela cauda – ele estendeu a mão e tomou-a, e a serpente tornou-se de novo uma vara em sua mão.
Êxodo 4, 4

Moisés fez, pois, uma serpente de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida.
Números 21, 9

Por que se fala tanto em serpente na Bíblia? Não, não é apenas por causa da história de Adão e Eva. As antigas escrituras já reconheciam a importância da serpente, uma criatura para o bem e para o mal. Não foi por acaso que ela se tornou símbolo da medicina, ao se enrolar em um cajado, o cajado de Asclépio, ou Esculápio, para os romanos, o deus da medicina, segundo a mitologia Greco-romana. Do alto do cajado de Asclépio e do poste de Moisés, as serpentes irradiavam a salvação, assim como Jesus Cristo, em proporção maior, pregado no topo da cruz, foi levantado da terra para iluminar o mundo e curá-lo com a salvação.

Um dia desses, estava eu vendo um trecho de um especial sobre mitologia grega em um canal fechado. O programa versava mais precisamente sobre Hades e o mundo dos mortos. Na Grécia Antiga, todos os finados, bons ou maus, iam para uma cidade subterrânea, onde ficavam sob a custódia do deus da morte, Hades. Aquela “cidade dos mortos” resumia para os gregos o conceito do que seria “o outro lado”, “o outro plano” ou o “além”, onde a vida, se é que aquilo podia ser chamado de vida, era bem mais pobre e mais triste que deste lado. Ainda não havia a perspectiva de um “paraíso”, de “passar desta para a melhor”. 

Isto começou a mudar com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, que desceu ao mundo dos mortos, libertou os cativos e derrotou Hades, acabando com sua soberania sobre o “além”. Foi mais precisamente graças às pregações de São Paulo, ex-Saulo de Tarso, que os gregos abriram suas mentes e passaram a acreditar naquelas mudanças. Apesar de já existir essa perspectiva de um lugar melhor, do lado de lá, penso que ainda devemos procurar viver aqui da melhor maneira possível e tentar tornar melhor a vida de terceiros, em vez de deixar tudo para mais tarde. 

Para encerrar a postagem, vamos destacar que a serpente é, simultaneamente, um médico e um monstro, porque tem dupla função. Do seu veneno saem: a cura para as picadas de outras serpentes, por meio do soro antiofídico dele extraído, e uma espécie de fibrina, que é usada como cola para fechar incisões cirúrgicas, em substituição às suturas convencionais. A serpente, quando não mata, ela pode lesionar gravemente sua presa, deixando sequelas, e pode também simbolicamente, induzir ao pecado.








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