Estava esperando um momento mais oportuno para escrever sobre o tema desta postagem, como, por exemplo, a recuperação do cantor mineiro Wando, com sua saída da UTI, sua alta hospitalar e sua primeira entrevista, após vencer a luta contra a morte. Infelizmente, nada aconteceu como esperávamos.
Há dias, desde que soube que ele estava internado, por conta de um infarto agudo do miocárdio, sentia vontade de escrever alguma coisa sobre ele. Algumas músicas dele não me saem mais da cabeça, tais como “Fogo e paixão” e “Deus te proteja”, músicas que marcaram minha infância. Vou deixar um clipe da primeira canção, no final desta postagem, em homenagem ao artista.
Este retorno fortuito e derradeiro de Wando à mídia me fez lembrar algumas histórias curiosas. Por exemplo, no meu colégio, havia um professor de gramática parecido com Wando. Ou pelo menos se esforçava para ser parecido com ele, em certos aspectos, apesar de ser baixo e gordo, mas ele se vestia como Wando e, por vezes, falava como se o imitasse. Era fã de carteirinha do cantor. Quando resolvia questões de vestibular conosco, dizia os gabaritos mais ou menos da seguinte maneira, sempre empostando um pouco a voz: “A de adorável, B de boneca, C de chuchu, D de doidinha, E de eterna”. Certo dia, um companheiro malino pôs uma calcinha perdurada sobre o quadro da classe. Quando o professor viu aquela arrumação, disse: “Esse tipo de presente eu só aceito se vier vestido em alguém”.
Me recordo também que, há pouco mais de dez anos, um dos filhos de Wando, que na época era conhecido pela alcunha de Wandinho Pitbull, morava no Rio de Janeiro, onde teria sacado uma arma e atentado contra as vidas de duas pessoas, em um posto de gasolina. Só estou mencionando este episódio porque duas coisas me chamaram a atenção, a partir de então. Uma, foi o desabafo que seu pai fez, naquela época, em uma entrevista, mais ou menos nestes termos: “Só espero que, depois que ele sair da cadeia, ele venha me procurar e me pedir perdão”. Não sei como eram as relações entre pai e filho, mas acredito que Wandinho, que já não é mais Pitbull, tenha realmente se reconciliado com seu pai. Wandinho foi uma das últimas pessoas a fazer companhia ao seu pai, no hospital. Além dele, o artista deixou também uma filha adulta e uma filhinha de apenas cinco anos de idade.
As diversas notas da Internet que noticiam a eternização de Wando e que discorrem sucintamente sobre sua biografia declaram que ele teria iniciado sua carreira na década de 60, em uma banda chamada “Os escaravelhos”, que tocava em bailes na cidade mineira de Congonhas e adjacências, talvez sob influência dos Beatles, que eram a banda de maior sucesso da época, no mundo inteiro, e que teriam sido fonte de inspiração para adolescentes formarem múltiplas bandas de garagem e botarem o pé na estrada, levando sua música mundo afora. Quiçá o jovem Wando também tenha sido inspirado de alguma forma por Milton Nascimento, que é seu contemporâneo e seu conterrâneo, e que também saiu tocando pelos bailes da vida, embora o estilo mais atual de Wando tenha se estabelecido, grosso modo, mais próximo ao de Reginaldo Rossi, mas não chegava a ser tão irreverente quanto. Seu romantismo dito brega era mais sentimental, mais comportado, mais poético e mais polido. De longe, Wando e Rossi eram parecidos, porque ambos faziam shows temáticos, com temáticas parecidas que atraíam muitas mulheres, canções com temáticas semelhantes, porém Wando soube ser mais erudito.
A partida de Wando foi inesperada, apesar da gravidade de seu quadro. Tudo parecia estar sob controle, e ele parecia não mais correr risco de morte. Ele chegou a escrever um bilhete, dizendo que estava na oficina de Deus, consertando as turbinas para retornar logo. De fato, ele consertou as turbinas, mas seu avião decolou e o levou para longe. Então, naquela manhã de sol, em 08 de fevereiro de 2012, não houve mais iaiá nem ioiô, e na noite do mesmo dia, não houve mais luz, raio, estrela, nem luar.
A música popular brasileira fica mais pobre, então, mas pelo menos esta perda vai nos ensinar a ver a música brasileira de outra maneira, principalmente depois que lermos as reflexões feitas por artistas considerados “bregas”, a respeito da perda de seu “irmão” Wando, nas páginas listadas abaixo. Até os políticos tiraram o chapéu para Wando. Antes de encerrar, queria lembrar que gostaria de, num momento mais oportuno, aproveitar a deixa, já que se falou tanto em ser brega, porque Wando foi taxado como tal, a vida inteira, e conversar com você sobre o que é ser brega. Seria isto apenas mais uma forma de bullying??? Conversaremos mais sobre isto.
************
Nenhum comentário:
Postar um comentário