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sábado, 30 de novembro de 2013

Farewell



"Nós não somos o que gostaríamos de ser. Nós não somos o que ainda iremos ser. Mas, graças a Deus, não somos mais quem nós éramos". Martin Luther King

                       Meu tempo de residência médica está chegando ao fim, o que, por um lado, é bom, mas, por outro lado, gostaria de ficar um pouco mais, pelo menos até me sentir seguro o suficiente para caminhar e enfrentar o mundo sozinho e sentir que tenho o suficiente a oferecer. Estou passando por um momento de tensão decisiva, assim como as últimas rodadas de um campeonato, os últimos capítulos de uma novela ou os últimos episódios da temporada de uma série consagrada. O tempo restante até o desfecho talvez seja insuficiente para trazer à tona as respostas que os telespectadores esperam, e talvez surjam mais dúvidas.

                       Me pergunto o que vou levar da residência médica. Me pergunto se estou apto a servir bem à comunidade. Admito que não sou o melhor que ela poderia ter, mas seria melhor ter a mim do que nada ter, porque ainda faço a diferença nas vidas de muitos. Admito que dei bandeira, quando expressei de maneira muito aberta e inadequadamente minhas emoções, suscitando minhas dúvidas também naqueles que estavam próximos. Admito que dei bandeira, por não ter aproveitado melhor estes últimos três anos, que passaram depressa, enquanto minhas vidas profissional, financeira, familiar, amorosa e espiritual corriam desorganizadas. Mais uma vez, dei bandeira, quando me perguntei se tudo teria sido diferente, se tivesse empreendido um esforço maior para ter começado e concluído mais cedo minhas empreitadas.

                       Me pergunto também o que vou deixar na residência médica. Terei contribuído para tornar este e outros lugares por onde passei em ambientes de paz e de união, deixando os melhores legados possíveis, ao invés de torná-los lugares de discórdia, de acordo com a Oração de São Francisco??? Terei deixado as melhores impressões possíveis, naqueles lugares, ou terei projetado neles meus demônios e meus conflitos internos??? Minha partida teria despertado saudades ou alívio, naqueles que ficaram??? Estas e outras perguntas tenho dirigido a mim mesmo, desde que me formei médico, há três anos, e, provavelmente, Deus poderá dirigi-las a mim, quando nos encontrarmos. De qualquer maneira, tenho identificado os "buracos" na minha formação e estou tentando fechá-los, dentro do possível.

                       Neste momento, graças à Deus, temos várias opções de caminhos a seguir. Grosso modo, ficaremos bem, em qualquer caminho que venha a ser escolhido, mas poderemos dar bandeira, se titubearmos demais e fizermos as escolhas erradas, que seriam aquelas que, em princípio, parecem as melhores, mas que, à médio ou longo prazo, se mostram desastrosas. Admitamos que não existem lugares perfeitos para trabalhar, tampouco pessoas perfeitas para lidarmos com elas, e que estamos sujeitos ao desgaste, porque somos perecíveis e estamos de passagem, mas estamos sempre buscando o melhor possível. Somos livres para partirmos para outras caminhadas, quando julgarmos necessário. Pois, como já foi dito, se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. O importante é não ficar parado.




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