Páginas

domingo, 11 de novembro de 2012

Quase deuses


"Médico, cura a ti mesmo". Lucas 4; 23

                       Na noite da última sexta-feira, dia 09, foi aberto o Primeiro Encontro Cearense de Médicos Católicos, realizado no Auditório Castelo Branco, na reitoria da UFC. Este encontro é a retomada de um projeto iniciado em 1946, quando foi realizado em Fortaleza o Primeiro Congresso Brasileiro de Médicos Católicos, sob os auspícios da Sociedade Médica São Lucas, criada nesta capital, há exatos 75 anos. Aquele congresso reuniu alguns dos principais expoentes da medicina em nosso Estado, cujas idéias foram compartilhadas e, a partir de então, foi dado o pontapé inicial para a criação da primeira escola médica de Fortaleza.

                       Eventos como este servem para fazer a sociedade e os próprios médicos perceberem que somos todos seres humanos frágeis e sujeitos às mesmas leis naturais. Nossa ciência é medíocre, apesar dos avanços obtidos nos últimos dois séculos, e não estamos acima da morte, nem das leis divinas. Se nos lembramos que Deus existe, é Nele que encontramos nosso conforto.

                       Tenho autoridade para dizer que nossa ciência é medíocre, pois nossa farmacologia, por exemplo, ainda é muito rudimentar. Por vezes, explico para alguns pacientes como funcionam nossos antipsicóticos, medicamentos que sedam os pacientes e, por tabela, diminuem as alucinações e os delírios, em uma linguagem compreensível para eles. Comparo os antipsicóticos com as palhetas das asas de um avião e com as turbinas do mesmo avião, quando acionadas ao reverso, puxando o ar em sentido contrário. São esses os mecanismos que fazem o avião freiar, logo que pousa. Os antipsicóticos não fazem mais que desacelerar o funcionamento da mente de um paciente psicótico. Esses medicamentos ainda não têm capacidade de agir pontualmente em cada uma das queixas e manifestações especificas daqueles pacientes, manifestações que podem desaparecer ao longo do tempo, com as desaceleracões da mente.

                       Por vezes, pacientes me perguntam se tenho religião. Eles se espantam, quando digo que sou católico. Eles reagem assim, quiçá porque a visão de médico que eles têm é a visão estereotipada de um médico arrogante, que se considera auto-suficiente, que acha que não precisa de Deus, que se limita a dar ordens para que os outros trabalhem por ele, enquanto ele recebe os louros. As pessoas não se lembram que o médico também é uma pessoa do povo e um ser humano que precisa ser alimentado com a luz divina e que precisa encontrar um pouco de paz e de descanso, pois, por mais que seu trabalho seja gratificante, não deixa de ser desgastante. Por vezes, muitos dentre nós mesmos não se lembram disso.

                       Nós, médicos, embora aprendizes da arte de Esculápio, o deus grego da medicina, ainda não conseguimos ser imortais como ele, tampouco conseguimos tornar imortal algum de nossos pacientes. Cedo ou tarde, nossos corpos e mentes conhecem seus limites. Médicos também envelhecem, adoecem e morrem.

                       Não me considero um carola. Sou um homem de pouca fé, mas não deixo de reconhecer que precisamos de Deus, todos os dias, ao invés de me acomodar com aquela ideia de que tudo aqui transcorre ao acaso e que não há nada que possamos fazer contra isso.  

                       A mensagem a seguir foi escrita por mim e publicada no convite de formatura da minha turma de faculdade:

                       "Senhor, nós Vos rogamos que jamais deixemos de lado nossa humildade, mesmo que venhamos a gozar de prestígio na sociedade e de outros benefícios que nossas carreiras possam nos propiciar. Não deixeis que nos esqueçamos de Vós e de que Vossas ciência e vontade são superiores às nossas humildes e rudimentares ciências e tecnologias. Obrigado por ter nos acompanhado nesta trajetória e por nos ajudar a superar tudo que considerávamos insuperável."




******




Nenhum comentário:

Postar um comentário