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domingo, 26 de agosto de 2012

Campo 2


                             Como falei na postagem anterior, estou lavrando meu campo e cuidando do que é meu, não apenas no sentido físico, mas também nos sentidos moral, profissional e espiritual. Estou plantando hoje para colher amanhã, sem a intenção ingênua de enriquecer, mas preciso colher pelo menos o necessário para sobreviver e levantar vôo.



                             Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.  
Mateus 6, 19-21

                             Olha, sei que não devemos nos apegar demais aos bens materiais e viver apenas em função deles, até porque eles valem menos que os bens espirituais, mas, enquanto vivemos neste mundo, precisamos ter algo em mãos. Precisamos constituir um patrimônio. Patrimônio que nos permita viver com dignidade, que nos ajude a sair de situações de aperto, quando necessário, que nos permita ajudar as pessoas mais necessitadas e que possa ser passado às gerações seguintes, desde que elas se comprometam a usá-lo com parcimônia e responsabilidade.

                             Quando falo de patrimônio, não me refiro apenas à posses. Mais uma vez, aqui incluo valores pessoais, virtudes, culturas, exemplos de vida, fé, enfim, tudo aquilo de bom que pode e deve ser guardado, utilizado e passado adiante, seja material ou não. Porque sem um patrimônio, estamos apenas ocupando espaço no mundo, mas sem fazer parte dele. Então, se você ainda não tem um lugar para chamar de seu, nem um bem registrado em seu nome, procure conservar consigo, em seu coração, pelo menos o restante dos itens de valor que mereçam ser considerados como patrimônio.

                             Daí a César o que é de César e a Deus o que é Deus. 
                             Lc 20, 25

                             Por isso sempre rogo a Deus que continue abençoando meu trabalho e seus frutos, me permitindo manter minha reputação de bom pagador e construindo meu patrimônio. Para cada um de meus recursos será dado seu mais apropriado destino. Sei que dinheiro não foi feito para ser guardado, mas para ser investido, para retornar a algum lugar, como eu já devo ter dito aqui, mas é preciso guardar sempre um pouco, para garantir nossa sobrevivência e para fazer frente, em algumas eventualidades.


                             Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas em consequência.  
Mateus 6, 33

                             Claro, o reino celestial sempre está presente no horizonte de quem é cristão. Porque acumulação de riquezas por acumulação de riquezas é inócua. Precisamos acumular alguma riqueza para subsidiar nossas necessidades fundamentais, como alimento, indumentária e moradia, por exemplo, para ajudar os semelhantes a satisfazerem essas mesmas necessidades e para honrarmos nossos compromissos com o céu e a terra. Esses elementos que eu citei e dos quais precisamos para viver não nos saem de graça. Precisamos lutar pelo acesso a eles.

                             Deve ser muito desolador você viver sem ter um lugar para chamar de seu ou qualquer outra coisa para chamar de sua. Mas, se você quiser e puder optar por levar uma vida despojada no melhor estilo franciscano, sinta-se à vontade. Existem pessoas adotando esse estilo de vida, em vários cantos do mundo. A maioria delas vive sem dinheiro e sem bens materiais em países desenvolvidos e elas não adotaram essa vida despojada necessariamente por razões religiosas, embora algumas admitam ter seguido uma corrente filosófica de indivíduos da religião hindu que andam pelo mundo apenas com a roupa do corpo e com aquilo que possam carregar nas mãos.

                             Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.  
Mateus 6:25-29

                             Essa passagem me fez lembrar um dos melhores livros que já li e que também aborda essa questão do trabalho extremamente, e quase que exclusivamente, devotado ao bem estar material. Li esse livro umas cinco vezes, pelo menos, nos últimos quinze anos. Ele contribuiu fortemente para que eu seguisse a carreira médica. Depois eu quero tecer alguns comentários sobre esse romance, noutra oportunidade.

                             Você notou que, nesta postagem, meus comentários foram confrontados com alguns trechos bíblicos??? Bem, isso me fez lembrar também de um livro de poesias com o qual tive contato, há alguns anos, quando ainda estava me preparando para o vestibular, em cuja prova de língua portuguesa o livro seria abordado. Na obra "A palavra e a Palavra", do escritor cearense Horácio Dídimo, que é professor do curso de letras da UFC (Universidade Federal do Ceará), cada poema expressa alguma preocupação, dúvida ou estado de espírito do homem contemporâneo, e, ao final de cada um deles, surge uma passagem bíblica que tenta confortar ou trazer alguma resposta. O termo "palavra" com letra minúscula representa a palavra do homem, o termo "Palavra" com letra maiúscula, a palavra de Deus. Eu não tive a intenção de me inspirar nesse livro. Depois foi que a ficha caiu.

                             E já que falamos tanto de palavras, que tal encerrar a postagem com a canção "Palavras ao vento", de Cássia Eller??? Música apaixonada, de letra às vezes um tanto repetitiva, mas com ela se aprende que nem toda palavra dispersa ao vento é palavra perdida. Por vezes a palavra é captada em algum lugar. A palavra também é nosso patrimônio. Mesmo que saia de minha boca ou de minha mão, ela continua sendo minha, sempre. É por isso que sempre investimos na palavra e com a palavra.





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