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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Treze



                          O último domingo que passou, dia 13 de maio, foi dia de festa tripla. Foi dia das mães, foi dia consagrado à Nossa Senhora de Fátima, uma das santas católicas mais veneradas no Brasil, considerada a "Mãe das mães", e foi dia de decisão de muitos campeonatos estaduais de futebol, inclusive na minha cidade, onde houve clássico-rei: Ceará vs. Fortaleza.

                          Muita emoção para um dia só, não é mesmo? Ah, eu ia esquecendo: 13 de maio também é aniversário da abolição da escravatura no Brasil. Falando nisso, estava lendo esses dias um artigo que fala sobre o esvaziamento do significado cívico do dia 13 de maio como marco da libertação dos escravos. Mesmo as pessoas afrodescendentes esquecem essa data e preferem celebrar no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, aniversário do assassinato de Zumbi, líder do quilombo de Palmares, no século XVII, sendo para muitos uma data socialmente mais expressiva da luta dos afrodescendentes por seus direitos civis, enquanto o dia 13 de maio seria apenas uma data simbólica, porque a Lei Áurea para muitos deles representaria apenas um ato de caridade do governo. 

                          Cá para nós, eu também acredito que, se princesa Isabel assinou a Lei Áurea, deve ter sido mais por causas políticas e econômicas que por motivações cristãs e humanitárias, mas não vejo isso como desculpa suficiente para subestimar a importância da data. Se a Lei Áurea não tivesse sido sancionada, cedo ou tarde, a escravidão iria a termo, porém, talvez de maneira não tão pacífica, e o Brasil talvez não fosse um país relativamente desenvolvido como é agora. Eu acho que já havia escrito algo sobre isso lá no saudoso Consciência Acadêmica. Depois eu quero conversar mais sobre essa questão e também sobre as cotas raciais.


                          Bem, voltando ao nosso assunto principal, numa data múltipla como essa, com muitas festividades, seria de se esperar que a cidade ficasse um caos. Chegou perto, mas não foi para tanto. Há cinco anos, em 2007, o dia 13 de maio também concentrou eventos importantes, sem grandes repercussões negativas.

 
                         Desta vez, você que mora em Fortaleza deve ter visto notícias de confrontos entre torcedores dos times que disputaram a final do Campeonato Cearense e de atos de vandalismo cometidos por alguns deles, além de outros delitos.
                         Sem querer tomar partido, mas, como dizem os historiadores, a história que nos é ensinada nas escolas e nas universidades acaba sendo, predominantemente, a história contada pelos vencedores. Observa-se que os meios de comunicação deram mais ênfase aos atos ilícitos cometidos por torcedores do time que não foi campeão, dando a impressão de que apenas eles foram responsáveis pela desordem nas cercanias do estádio e em alguns terminais de transporte coletivo. Existe um certo preconceito em nossa terra contra os torcedores tricolores. Há quem diga que todos os delinquentes da terra são tricolores, por exemplo. Só para fazer justiça, saiba que nem todos os torcedores alvinegros são santos. Alguns deles também cometeram algum vandalismo dentro e fora do estádio.


                         É impressionante como as pessoas aqui levam o futebol a sério. Na verdade, não é só aqui. Esses transtornos causados por torcedores que levam o futebol a sério demais e que usam a rivalidade futebolística como desculpa para se hostilizar contra outrem também acontecem em países desenvolvidos e em países predominantemente muçulmanos, como o Egito, por exemplo, onde, em fevereiro deste ano, torcedores invadiram o campo para agredir os jogadores e acabaram se degladiando e deixando um saldo de mais de 70 mortes. O que aconteceu em Fortaleza foi apenas brincadeira, quando comparado com isso. Aquele incidente no Egito até que não me surpreende tanto, porque, justamente nos países muçulmanos, onde as pessoas geralmente são mais conservadoras em seus costumes, os homens adoram o futebol. Deve ser para eles uma válvula de escape para reagir às cobranças e às privações impingidas por sociedades repressoras. 
                          Os cidadãos pegam suas frustrações do cotidiano, as derrotas, as cobranças, os maus salários, os problemas familiares, as desavenças e levam tudo para o campo, jogando contra tudo isso, juntamente com seu time, empurrando-o para a frente. Pelo menos naquele retângulo gramado, no tapetão, eles querem sentir-se vencedores. O problema é quando eles querem levar as questões que deveriam ser resolvidas em campo para fora dele, chegando a sacrificar a própria vida e a de terceiros. Depois eu quero conversar mais sobre isso.
                          Enfim, o número 13 é um número cabalístico. Para uns, sorte, para outros, não. Para mim, dia 13 foi um dia de sorte porque, além de meu time ter sido campeão, passei o dia com minha mãezinha. Então, o dia 13, apesar da força simbólica do número, para quem é superticioso, e, apesar dos pesares, ainda é, indubitavelmente, um dia abençoado.



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