Páginas

sábado, 24 de março de 2012

Na oficina de Deus 2

 

                    "E o salário, ó". Bem, o salário foi curto, mas a vida, longa. Assim como o cantor Vando, o mestre do humor Chico Anysio, cearense de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza, também estava na oficina de Deus, dando alguma margem de esperança de que voltaria em breve, mas acabou sendo também convocado e se viu obrigado a alçar vôo, ontem à tarde.

                    Não tenho muito a dizer sobre esta perda, mas não podia deixar esta situação passar em branco. Quebrei minha atual linha de raciocínio porque precisava escrever alguma coisa, neste momento. O que tenho a dizer é que o Brasil fica cada vez mais pobre culturalmente. A saída de cena de Chico Anysio é um desfalque muito grande para nós. Foi um golpe tão duro que a presidenta Dilma Rousseff também lamentou o ocorrido e enviou condolências aos familiares, e o governo cearense decretou luto oficial. Eu sei que ele não ficaria conosco para sempre, mas ninguém estava preparado para seguir adiante sem ele e seus personagens incontáveis. Ele também foi um grande padrinho para as gerações de humoristas que o sucederam, especialmente de seus conterrâneos


                   Ele representa para nós brasileiros o mesmo que Roberto Bolaños, vulgo Chespirito, o criador e intérprete dos personagens Chaves e Chapolin, representa para os mexicanos. Por sinal, Bolaños tem mais ou menos a mesma idade de Anísio, sua saúde também está meio que na berlinda e ele também precisa de nossas orações. Assim como Anísio, Bolaños também já foi alvo de boatos sobre sua morte, nas redes sociais.

                    Sugiro que você se reporte ao blog do companheiro Lleo Modesto, onde verá uma biografia completa do humorista, além de um vídeo, gravado há mais de trinta anos, no qual ele comenta a própria morte. Muito interessante aquele vídeo. Foi como se tivesse previsto o futuro. 

                    Falando em prever o futuro, há quase trinta anos, Chico apresentou uma edição do programa em que os Trapalhões atuavam na Globo, nas noites de domingo. Naquele programa, talvez por acaso, ele fez uma previsão de como seria a situação do quarteto, vinte e cinco anos mais tarde.


                       Sugiro que você se dirija à página da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e veja matéria alusiva à sua partida, com vídeos de depoimentos nos quais ele declarou ter feito tratamento para depressão com um médico psiquiatra, por mais de vinte anos. Esses depoimentos foram apresentados, juntamente com os de outras pessoas do meio artístico que têm histórias pessoais ou familiares de doenças psiquiátricas, no último Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em novembro do ano passado no Rio de Janeiro. Segundo suas próprias palavras, "preconceito contra o doente mental é crime".

                     Antes de sair, por obséquio, veja esta entrevista que foi exibida no Fantástico, na qual ele conta o que viu da vida, quando já sentia que ela lhe escapava entre os dedos. 


  Que Deus o tenha!!!



*****




Um comentário:

  1. Somos mesmo todos insubstituíveis, porque cada um de nós é único. Nunca vai existir alguém totalmente igual a mim, ainda que eu seja clonado, que meus descendentes queiram me imitar ou mesmo se existisse reencarnação e eu voltasse a passar por aqui.

    ResponderExcluir